Chega setembro e, como sempre, “as Minas Gerais” se pintam de amarelo. Prédios públicos, palácios, fachadas da Assembleia… tudo brilhando, como se a luz resolvesse os problemas da cabeça das pessoas.

É bonito de ver, quase poético. Pena que, por trás do palco, muita gente continua se afogando em silêncio. O amarelo só pega no concreto, nunca no espírito.

Em 2024, Minas registrou 2.006 suicídios, segundo dados oficiais (otempo.com.br). Um número que dói mais que ressaca de carnaval e que faria qualquer cronista choramingar com papel e caneta. Homens, mulheres, jovens, servidores — ninguém está imune. E o pior: entre os policiais, bombeiros e agentes penitenciários, Minas está em terceiro lugar nacional (sindpolmg.org.br). Heróis por fora, desesperados por dentro.

O governo até fez a lição de casa no papel: Lei 25.005/2024, Lei 24.091/2022, CAPS, RAPS… tudo muito bonito. Mas, convenhamos, na prática é como dar aspirininha para quem precisa de cirurgia cardíaca.

O CAPS da cidade do interior funciona só na segunda e na quinta, horário de expediente. Quer ajuda? Só se tiver sorte ou coragem para enfrentar a fila de espera.

A lei existe, mas a vida continua sendo uma tragédia silenciosa — estilo Nelson Rodrigues misturado com Guimarães Rosa.

E “as Gerais” continuam nesse teatro de fachada: luz amarela, campanhas de Instagram, fotos de palácio iluminado, discursos emocionados. Mas quando a cortina cai, cada número de suicídio aparece nu e cru, como uma Ofélia perdida na burocracia. A Secretaria diz que o atendimento é rápido, mas rápido mesmo só para os papéis. Para quem precisa, a espera é eterna.

CAPS de verdade, de rua, de bairro, com portas abertas, horários flexíveis, gente que ouça e que saiba o que fazer... só em sonho, né? — porque iluminar prédio não salva ninguém.

Treinamento real de profissionais, para que não respondam “relatório enviado” quando alguém diz que quer se matar. Escuta, ação, cuidado. Isso salva.

Integração de verdade: saúde, educação, segurança e assistência social. Que seja uma rede, e não departamentos jogando burocracia uns para os outros.

Campanhas que funcionem fora do Instagram: ensinar a olhar o vizinho, o colega de trabalho, o policial que chega exausto do turno. Atenção prática, antes que seja tarde.

Olhar para os servidores: se a polícia, bombeiros, professores e agentes penitenciários estão à beira do abismo, o Estado não está cumprindo seu papel. E a omissão é tragédia anunciada.

Setembro em Minas é vergonha, risos cínicos e assombro. Vergonha pelos números que não caem. Risos porque os prédios iluminados parecem teatro de luxo enquanto vidas se perdem. Assombro porque leis, verba e discursos não substituem presença, cuidado e ação.

Se Minas fosse romance de Guimarães Rosa, cada suicídio seria Riobaldo perdido entre o sertão da burocracia e o mato da solidão. Se fosse tragédia grega, o coro já teria gritado “basta!”.

Mas o governo prefere o espetáculo, a vitrine, a fachada. As vítimas? Invisíveis.

Setembro Amarelo nas Gerais é só um farol no concreto. Mas a vida, a verdadeira vida, continua no escuro.

Enquanto Minas brilha em fachadas e hashtags, a Rede Ultra não vira as costas. Sabemos que os números não são apenas estatísticas frias: são mães, pais, filhos, colegas, amigos. São histórias interrompidas, gritos que ecoam no silêncio do descaso. Estamos ao lado de quem sofre, oferecendo informação, apoio e voz para quem muitas vezes é ignorado.

Porque a dor não se resolve com luz amarela ou discurso bonito. Ela precisa de atenção, cuidado e presença humana. E é isso que a Rede Ultra defende:

solidariedade de verdade, para famílias, para servidores, para cada vida que ainda busca ajuda. Enquanto o governo se esconde atrás da vitrine, nós nos colocamos onde importa: ao lado de quem precisa, ouvindo, alertando e lutando para que nenhuma vida se perca sozinha.